No prefácio a Várias histórias, Machado de Assis diz sardonicamente que contos têm sobre romances a vantagem de serem curtos, e que não são mais que “um modo de passar o tempo”. Mas a epígrafe do livro, extraída de Diderot, sugere que a vida é ela mesma um conto que passa rápido, sem que a gente se dê conta, o que coloca os contos no limiar vertiginoso em que o momento breve e o tempo da vida inteira passam um pelo outro. Aí reside, aliás, a maestria do gênero, que Machado leva ao mais alto patamar na
literatura mundial de seu tempo.
No curso, serão abordados quatro núcleos. Em primeiro lugar, o daqueles contos que envolvem “teorias da alma”, concentrados principalmente no livro Papeis avulsos, e gravitando em torno de Memórias póstumas de Brás Cubas) (“O alienista”, “O espelho”, “Verba testamentária”, ‘Teoria do medalhão”), além de “O cônego ou metafísica do estilo”, de Várias histórias. A presença, neles, de formulações muito próximas das de Freud sobre inconsciente, de Lacan sobre o espelho na formação do eu, e de Foucault sobre a história da loucura são intrigantes e, mesmo, espantosas (fique claro, no entanto, que o seu interesse não se resume a isso).
Um segundo núcleo de contos envolve o enigma feminino e o lugar da mulher, gravitando, pode-se dizer, em torno de Dom Casmurro (“Singular ocorrência”, “Missa do galo”, “Uns braços”). Eles subvertem a perspectiva dos homens, do ponto de vista dos quais são narrados, com um olhar agudo sobre o que está silenciado na
posição feminina.
Um terceiro núcleo é o de contos em que a música tem um papel fundamental, aparentados, nesse sentido, ao romance Esaú e Jacó (“O machete”, “Um homem célebre”, “Trio em lá menor”). O erudito e o popular na cultura brasileira, entre a sonata e a polca, acabam revelando algo sobre um assunto tabu em Machado: a mestiçagem e a sua condição de mulato.
Finalmente, um quarto grupo reúne contos que envolvem explicitamente as questões do favor e da escravidão, como “O caso da vara”, “Pai contra mãe”, “O enfermeiro” e “A causa secreta”. O curso tem como chave inspiradora o poema de Carlos Drummond de Andrade chamado “A um bruxo, com amor”.
INFORMAÇÕES:
Datas: 23 e 30 de março; 06, 13, 20 e 27 de abril; 04, 11, 18 e 25 de maio; 01 e 08 de junho;
Horário: das 20h30 às 22h30;
Duração: 12 encontros.
Local: Atelier Paulista, de forma remota (alinhada ao protocolo de biossegurança da OMS), com transmissão ao vivo, por meio da ferramenta Zoom e com apoio técnico aos inscritos.
Número de vagas: 130.
INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES:
atelierpaulista@gmail.com ou 11 97785-3897 (WhatsApp)