HISTÓRIA(s) DO DIABO,
curso com Roberta Ferraz
Plano de curso:
O Diabo pode ser lido, sobretudo, como uma camuflagem simbólica a serviço de retóricas da intolerância. Se as grandes preocupações teosóficas a respeito de sua figura e função se iniciam em razão de um esquadrinhamento das origens do mal, a aplicação de seu imaginário na estruturação identitária de uma cultura ultrapassa em muito essa questão primeira, mostrando-nos de que maneira os dispositivos de poder, por parte de quem domina o discurso sobre um e outro – bem e mal, nós e eles, fé e pecado, por exemplo – são exercidos. Na construção de seu domínio cultural, a fé cristã revelou-nos seu aspecto mais violento e violador por meio das muitas formas que o Diabo foi assumindo, no desenrolar dos milênios. Quem merece ser associado ao mal, ao diabólico, ao caos, ao pecado? Pagãos, cristãos heterodoxos, judeus, muçulmanos, ‘selvagens’ do novo mundo, mulheres, doentes, pobres, etc. – a longa lista de servidores do Diabo acompanha passo a passo a retórica de dominação da Igreja Católica oficial, embora simultaneamente tenha sempre havido aqueles que tentassem, no seio da fé cristã, restaurar a dignidade da questão sobre o mal na humanidade, uma questão de todos os tempos, todas as culturas, todas as religiões. A história do Cristianismo no Ocidente respira na medula de vários de nossos hábitos, formando, tantas vezes inconscientes, não apenas o quadro de nossas ‘boas ações’, mas também o de nossos preconceitos. Absolutamente predominante na história da arte europeia ocidental, a rede de imagens sacras inevitavelmente acaba por colonizar nosso imaginário, do erudito ao popular. Neste curso, acompanharemos o desenrolar das imagens do Diabo, as muitas máscaras associadas a ele, seus muitos nomes e muitos atributos. Como nos lembra o critico Harold Bloom, “como não há uma origem única para Satã, não existe nenhuma história definitiva sobre ele” (Anjos Caídos, 2008, p. 48). Em tempos em que o ódio, a intolerância e o medo irrompem, de forma banalizadora, em nosso dia-a-dia; com o ressurgir de discursos político-religiosos apoiados na ignorância, é urgente revisitar este arquétipo de nossas próprias sombras, de nossa perversão íntima, para, quiçá, aprimorar criticamente as condições do encontro com a ambígua e difícil diferença, em nós e nos outro.
Programa:
13/04 apresentação do curso – aula gratuita
27/04 | aula 1 | nomear o mal: epistemologias do negativo
04/05 | aula 2 | desmontes pagãos: sobrescrever Dioniso e outros
11/05 | aula 3 | o imaginário do Diabo: lendo imagens 1
18/05 | aula 4 | desmontes heréticos: o Diabo como instrumento de Deus
25/05 | aula 5 | o imaginário do Diabo: lendo imagens 2 (bruxas e Inquisição)
01/06 | aula 6 | o Diabo na literatura: antes de Fausto
08/06 | aula 7 | o Diabo na literatura: tradição faústica 1
– A trágica história do Dr. Fausto de Marlowe (1588/1592);
– Paradise Lost, de Milton (1667)
– Fausto de Goethe (1808);
15/06| aula 8 | o Diabo na literatura: tradição faústica 2
– Os demônios, de Fiódor Dostoiévski (1872)
– Mon Faust, de Paul Valery (1946);
– Primeiro Fausto de Fernando Pessoa (edições póstumas, pós 1952);
– Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1956);
Informações:
Datas: 27/04; 04, 11, 18 e 25/05; 01 e 08/06.
Horário: 20h.
Duração: 08 encontros.
Local: Atelier Paulista, remoto (alinhado ao protocolo de biossegurança da OMS), com transmissão ao vivo que irá ocorrer por meio da ferramenta Zoom. O link de acesso será enviado sempre no mesmo dia do encontro.. Para quem realizar o curso no modo presencial, o endereço é: Rua Amália de Noronha, 301. São Paulo, SP (próximo a estação Sumaré).
Número de vagas: 130 (Zoom) e 35 (presencial).
Para mais informações e inscrições: atelierpaulista@gmail.com ou (11) 97785-3897